Mar 17, 2008

O enxoval

Andavam falando por aí que desse ano não passava, que agora eles casavam. e ela, no fundo, acreditava.
E ele dizia que, passando, a levava para onde quer que fosse. E ela acreditava.
Até que ele passou e foi. "Para procurar um lugar para ficar, sabe como é, não quero você em qualquer espelunca". E nunca mais voltou.
Não,isso não aconteceu de verdade. Ainda não. Mas Ana acordou tremendo, gelada, olhou para sua mão direita - a aliança ainda estava lá. Teve ânsia de ligar para ele, para saber se estava tudo bem, mas achou que era exagero. E voltou a dormir.
Ou, ao menos, tentou. Porque foi tudo tão real e essa história é tão velha quanto as historinhas que sua avó contava quando criança. E ela se desesperou, porque apostou tudo naquele relacionamento. Não, ela não deixou de viver a vida dela, mas ela não tinha uma profissão e acreditou piamente no que ele disse.
Mas...e se ele a abandonasse?O que ela faria?O que seria dela? O que pensariam dela? Uma moça, que não era mais moça, abandonada, antes mesmo do altar.
Meu Deus, como tinha sido burra!Era isso mesmo o que ele ia fazer. Como não pensou nisso antes?Ele andava nervoso, ansioso, preocupado, distante...provavelmente já tinha uma outra garota por lá.
E ela aqui, bordando o enxoval.
Ah, mas ele ia ver uma coisa. Ele ia aprender a nunca mais brincar com os sentimentos de ninguém, muito menos com os de uma moça de família, como ela era.
Não pensou duas vezes: subiu a escada, amarrou cuidadosamente o lenços onde estava bordado Haroldo e o enrolou em seu pescoço.
Pulo da escada e a única coisa que não ficou vermelha foi o nome do noivo, que estava bordado de azul royal, sua cor favorita.

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