Jul 20, 2006

Feliz dia do AMIGO

tu vai ler isso daqui achando a coisa mais brega do mundo, mas eu lembro de um tempo quando tudo que era breguinha tu achava bonito, ainda mais se viesse de mim.

por ser hoje o dia do amigo, e eu sei que já te enviei um texto que gostei muito, queria te escrever algumas coisas únicas, exclusivas, pessoais e intransferíveis.

eu já fui apaixonada por você; na verdade, nunca fui tão apaixonada por alguém em toda a minha vida como fui por você. Mais ainda:nunca fui apaixonada por alguém por tanto tempo como fui por você. Porque ao longo dos 10 meses em que passamos juntos, eu era uma pessoa completamente apaixonada por você. Entreguei-me totalmente a este sentimento, talvez por fazer muito tempo que não sentia, talvez pela intensidade com que as coisas aconteceram, talvez por você parecer estar tão apaixonado e entregue a mim quanto eu estava a você.

Eu já te amei. Como homem. Te amei muito, mas isso levou um tempo, acho que por causa da paixão, que tomava conta de mim, revirava meu estômago - as tais borboletas. Mas quando passei a te amar, foi pra valer. Te amei tanto que talvez até tenha deixado um pouco de me amar, mas as circunstâncias eram outras, não venha querer discutir confluências, anulações ou coisas do tipo agora. Eu me doei e me dediquei por amor a você. Sentava no sofá da sala e ali ficava horas a fio, muitas vezes sem nem te ver ou ouvir sua voz, mas continuava ali, para o caso de você precisar, para o caso de você sentir algum ânimo, para o caso de você querer alguma coisa, para o caso de você querer minha companhia, meu abraço, meu carinho e, principalmente, meu amor.

Eu já te odiei. Muito e com força. Quando você quis me afastar para não me incomodar - e só agora eu entendo isso- e quando acabamos. Não, na verdade eu te odiei depois, mas hoje vejo que fui eu quem gerou esse ódio, porque era eu quem tentava de toda forma te trazer de volta pra mim e você, simplesmente, como disse ontem, agia como qualquer homem agiria. Você é um homem, afinal de contas. Mas isso nunca é levado em consideração para um coração partido.

Eu já tive ânsia de vômito e medo de te encontrar. Eu já chorei por sua causa, por não entender nada daquilo, por não entender como você não podia ser feliz comigo e ser feliz com outra pessoa em tão pouco tempo. Isso me martirizava.

Eu já deixei de sentir isso tudo e você se tornou uma ótima lembrança, ainda que sem explicações para muita coisa. Eu já me apaixonei e já amei outra pessoa depois de você, mas ainda continuava intrigada e o fato de eu ter te cortado de todas as maneiras possíveis e imagináveis da minha vida qualquer tipo de contato com você não ajudava em nada, definitivamente.

Eu já voltei a ter contato com você. E foi extremamente estranho no começo, estávamos ambos em períodos extremamente difíceis e complicados em nossas vidas. E você foi falando e falando e eu voltei a te reconhecer. E, com o tempo, eu fui falando e falando também. Chorando não, porque você me reprimia. E as coisas ficaram menos tensas aos poucos.

Eu já voltei a chorar na sua frente, por motivos vários, mesmo sabendo que você não me abraça. Ou melhor, não abraçava.

Eu já até te impedi de me abraçar! Isn´t that ironic?

Hoje eu quero apenas te agradecer por tudo isso. Por tudo que eu já fiz ou deixei de fazer ao longo desse tempo em que nos conhecemos.

Quero agradecer por você ser meu amigo e estar ao meu lado nesse momento. Por não ter me deixado de lado, por não ter me abandonado e, principalmente, por estar me agüentando.

Quero dizer que te amo muito e sei que você me ama também, não importa qual a forma desse amor. E que não quero nunca que você saia da minha vida. Exatamente como eu disse ontem: só não me abandona, tá?

Amo tu. Feliz dia do AMIGO. Assim mesmo, com letras maiúsculas.

Jul 11, 2006

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.



Para iniciar este blog, cujo título homenageia tão ilustre escritor, nada melhor que um texto seu.

[Caio Fernando Abreu]

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