Aug 11, 2008

Há 3, 4 anos isso nunca teria acontecido.


Há 3, 4 anos eu estava sempre, sempre mesmo, à sua disposição.


Eu largava tudo para estar com você, eu faltava aula, eu mudava meus planos, meus horários.


Eu mentia, eu criava histórias, eu faltava ao trabalho se fosse necessário.


Tudo para ficar com você, estar com você, sair com você, te ouvir, te ver, ouvir tua risada, dar risadas ao seu lado, dar minha opinião, ouvir suas longas e emaranhadas histórias, caminhar ao seu lado, ouvir música ao seu lado, chorar ao seu lado, no seu colo, no seu ombro, em seus braços; te acolher em meu colo, te acariciar em meus ombros, apoiar seu choro e suas dores em meus braços, em meu corpo inteiro.


Sim, porque nossas dores nos consomem e as dores pelas quais passamos nos consumiam de uma forma tão forte e tão dolorosa que nem o outro conseguia suportar direito.


Eu me preocupava com você, pensava em você todos os dias, queria saber como você estava, se estava estudando, se estava triste ou feliz, se estava doente, gripado; como estava seu namoro, seus relacionamentos, suas amizades - se você estava cuidando delas direitinho.


Não posso dizer que meu mundo girava em torno de você, mas quase. Eu só tomava decisões depois de conversar e debater -até os argumentos se esgotarem- com você. Eu só fazia qualquer coisa depois de pedir sua opinião. Eu me preocupava com o que você achava das minhas escolhas - profissionais, pessoais. Eu sempre te apresentava meus namorados em ocasiões onde você pudesse avaliá-los ao máximo - e me dizer o que achou depois. Não, nunca terminei um namoro por sua causa, mas confesso, hoje, aqui, que elas ficavam rondando a minha mente com uma frequência fora do normal.


Eu sofria se você sofria, eu chorava se você chorava, eu ficava feliz se você estava feliz. Eu cheguei ao cúmulo de ligar para a organizadora de um concurso para saber o seu resultado; e soube antes de você o que eu já sabia. E muitos outros vieram.

Mas um dia eu percebi que algo havia mudado. Você não era mais aquele. Não estava mais ali para me apoiar - e eu nem digo fisicamente não, que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não estou te desmerecendo, por favor, não me interprete mal. Você me ajudou quando ninguém mais põde ou soube que eu precisava de ajuda. Você me animou, me deu forças, me forçou a sair de casa, me elogiou quando eu me senti a pessoa mais feia do universo, me encontrava todo dia, apenas para ouvir minhas lamentações; você, por outro lado, chegou ao cúmulo de receber uma ligaçao a cobrar, minha, chorando e soluçando no meio da rua, largar tudo e ir me pegar num supeermercado, achando que eu tinha sido assaltada ou coisa pior, quando eu tinha, de novo, errado. Você tinha prova, mas me levava para tomar sorvete, um milk-shake de ovomaltine, devorar um nº4. Tudo para me deixar feliz, me fazer sorrir ou tentar, ao menos.

Você foi, durante muito tempo, o meu único e melhor amigo. Você me escrevia cartas, cartões, bilhetinhos. Sim, parece um pouco infantil, mas na hora não foi. Foi, muitas vezes, meu consolo, meu alívio, minha salvação.

Foi com você que eu vivi uma das tardes mais tristes e mais felizes da minha vida ao mesmo tempo. E, sem dúvidas, uma das mais lindas. Nós dois, juntos, ouvindo músicas previamente escolhidas para a ocasião, lembrando e relembrando momentos e momentos vividos e não vividos, chorando e sorrindo e cantando.

Mas, um dia, como eu disse, você mudou. Eu não podia mais contar com você. Não da forma de antes. E eu precisei de você e te procurei, mas você não veio. Doeu. Muito. Ainda dói até hoje. Porque talvez tenha sido a primeira vez que eu precisava do meu amigo de verdade. E você não deu a mínima, nem depois de muito tempo, nem depois de saber do que se tratava. Até hoje se limita a perguntar "e aí, como tá?". Não entendo e não aceito. Talvez eu tenha mudado e você é quem não está entendendo nada. Na verdade, acho que eu penso demais e esse é o meu grande problema em relação a quase tudo em minha vida.

Hoje, 3, 4 anos depois, eu não cedi. Eu não me desfiz, eu não me transformei em duas ou três ou quatro para te agradar. Eu me coloquei em primeiro lugar - e certamente, se você se desse conta disso, ficaria muito feliz por mim. Eu não briguei com ninguém para ir te ver, eu nem sequer fiquei com tanta vontade assim de te encontrar, até porque suas conversas, agora, se restringem a contar sobre suas namoradinhas, quem você pegou, quem está pegando, que tomou todas. Informações completamente inúteis e que realmente não me interessam. Nunca me interessaram, não sei porque você, que me conhece tanto, cismou de achar que eu gosto de te ver para ouvir isso. Enfim.

Eu cresci, afinal.

Aug 6, 2008

A última vez

Acordou, ou melhor, se levantou, olhou para os lados, esticou os braços, as pernas, estralou o pescoço e as costas.
Deu alguns passos, já com dor; gemeu. Sentiu que estava sendo observada e esses olhares eram de descrédito.
Ao se deparar com o espelho, olhou-se longa e cuidadosamente e disse que desistia.
Para ela, desistir significava derrota. Mas simplesmente ela não aguentava mais e tinha que saber respeitar seus limites, que ela já havia ultrapassado há muito tempo.
Estava cansada, com dor, angustiada, em meio à escuridão de sua doença pouco e mal compreendida.
Deitou-se no chão, mais uma vez, uma última vez, tentando ser levada com um pouco de alívio. Em vão, claro.
Mas ela não sabia; nem precisava saber.

Aug 5, 2008

T.,

Deitada no sofá agora há pouco, lembrei-me de você. Você surgiu em meio aos meus pensamentos, como se tivesse sentido que eu precisava de você naquele momento. A primeira lembrança que me veio foi daquele dia na praia. Eu e você, tão jovens, felizes, completa e inteiramente despreocupados, caminhando e sentindo a areia em nossos pés. Eu falava e falava e falava e você falava e falava e falava também. E nos ouvíamos e ajudávamos um ao outro, tal qual grandes amigos. Ninguém acreditaria se disséssemos que tínhamos acabado de nos conhecer.
Foi em um daqueles dias em que tudo parece estar errado e nada mais faz sentido. Eu e você, perdidos, nos encontramos um no outro. Ali, naquele lugar estranho para nós dois, em meio a tudo e a todos que nos rodeavam, nossos olhares se cruzaram e a partir daquele instante, nunca mais a minha vida foi a mesma.
Talvez, você, ao receber esta carta - se a receber - nem se lembre de tudo o que pretendo relatar; ou não veja do modo como eu vi. Mas isso realmente não importa agora. Eu simplesmente não podia deixar essa lembrança tão vívida ir embora. Faz tanto tempo e parece que foi ontem. Clichê, eu sei. Mas não vivemos todos, por mais que tentemos fugir deles, uma série de clichês o tempo todo?
Sinto a sua mão entrelaçada à minha. Sua aliança e meu anel de noivado se encostavam e faziam um barulho gostoso, como se duas taças da melhor champagne estivessem brindando, você dizia. Sinto o seu abraço aconchegante me acalmando, me acalentando. Sinto o vento bater em meu rosto ainda mais forte, enquanto você, incansavelmente, me girava, enquanto eu gritava, numa mistura de susto, medo, prazer, êxtase.
Eu vestia apenas um longo vestido creme, uma mistura de alguns vários colares coloridos, os cabelos soltos, pés no chão. Você destoava de todos, muito formal para a ocasião. Enquanto iniciávamos a primeira das inúmeras conversas que tivemos naqueles preciosos dias, um fotógrafo se aproximou e tirou uma foto nossa. A única foto que tiramos juntos e que, no último dia, resolvemos queimar. Paramos, olhamos para a frente, sem posar para a foto. Não sorríamos. Tínhamos o olhar distante e perdido, apesar de estarmos mais presentes do que nunca. Apesar disso, havia algo em nossos rostos, em nosso meio-sorriso, em nosso olhar, que era único, misterioso e indecifrável. Talvez por isso o fotógrafo tenha nos presenteado com a foto.
Estávamos entediados e deslocados, com todas aquelas pessoas que se auto-denominavam intelectuais, conversando sobre Kafka, Tolstói, Dostoiévisk, Freud, dentre tantos outros. Não que não conhecêssemos os trabalhos desses gênios; talvez até mais do que aqueles que haviam se reunido com esse propósito. Mas não sentíamos necessidade, nem víamos sentido algum em realizar um encontro como aquele. E assim, meio que por acaso, meio que sem querer, meio que por coincidência, nos conhecemos.
E eu nunca mais conheci alguém como você, que completava minhas frases, meu raciocínio, que me fazia me sentir mulher, amiga, desejada, sensual. Que conseguiu penetrar tão fundo na minha alma que me senti, pela primeira vez, inteira, verdadeira,única, insubstituível. Você me mudou e você sabe disso. Você me tornou uma pessoa melhor, mais centrada e completa.
Eu só queria que você soubesse tudo isso.
E que você faz muita falta.
C.

Aug 4, 2008

O saco sem fundo

Eu sou uma pessoa problemática e cheia de problemas, eu sei. Sei e admito. Tenho muitos defeitos, muitos medos, muita insegurança, muita teimosia dentro de mim.Isso não quer dizer que não quero deixar de ter e/ou sentir tudo isso. Mas faz parte de mim. é um pedaço das minhas características, dos meus defeitos e qualidades. Pelo menos por enquanto.Eu não sei até onde você acredita quando digo que quero mudar. Mas quero e quero isso mais que tudo, mesmo antes de você, mesmo antes de qualquer pessoa, mesmo antes de eu me dar conta de mim mesma. Antes mesmo de eu ser eu.Eu me comparo, me desprezo, me humilho, me rebaixo; fazendo tudo isso, só causo dor e sofrimento - a mim, principalmente. Mas a você também. E eu me preocupo com você. Eu só quero o seu bem e que você seja feliz. Eu não quero te ver com raiva, triste, decepcionado. Eu quero te ver sorrindo, como no dia em que nos conhecemos, como naquele seu aniversário, como naquele álbum de fotografias, como naquele porta-retrato com um registro da sua infância.E percebo, todos os dias mais e mais, que eu não consigo. Eu quero, acredite. Mas eu não consigo. Não quero mais conversas tristes, choros, raiva, impaciência, decepção, ódio algumas vezes.Mas eu não sei o que fazer. Você disse que isso é um saco sem fundo, que nunca ninguém vai conseguir preencher, que isso é algo meu. E é verdade. É meu. E eu tenho que resolver isso sozinha. Mas te peço, por favor, que espere e aguente mais um pouco.

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